
José de Anchieta canta a Virgem Maria (Mês de Maio 3) Poema tupi “Jabaeté paí Jesu” (Jesus, que é o forte Senhor).
Foi na sua estadia na Igreja de Iperoig que José de Anchieta se encontrou com o velho índio mais que centenário e lhe explicou as grandezas de Deus feito homem e de sua Mãe a Virgem Santíssima: “Quando lhe vim a declarar o mistério da Encarnação, mostrou grande espanto e contentamento de Nossa Senhora ao dar à luz e permanecer virgem... De fato, nunca mais se esqueceu, o índio nem do mistério, nem do nome da Bem-aventurada Virgem”. A força da Virgem, seu poder é ressaltado no poema "Jabaeté paí Jesu". Como peça característica do indianismo anchietano, valoriza-se imensamente a força da Mãe de Deus (Tupansy) ao dizer que a Virgem arrasa, arrepia, bate, afugenta, amedronta, contraria, assalta, empurra, prende, bate, afugenta, amedronta, expulsa, contraria, assalta, empurra, prende, pisa o inimigo (anhangá). O texto que apresentamos é uma tradução de Armando Cardoso (1984, p. 207), que apresenta Maria-Tupansy em auxílio à ação de Jesus, envolvendo o inimigo e vencendo-o com a força de Cristo.
Jesus , que é forte Senhor,
Nosso inimigo arrepia.
É o nosso grande amor
Tupansy, Santa Maria.
Filtra sempre em nossa casa
Anhangá, nos provocando.
Tupansy, a nós chamando,
Forte e totalmente o arrasa.
Nisso não nos atenaza,
Chama ao ruim e o arrepio:
É nosso amor que se abrasa,
Tupansy, Santa Maria.
“Jesus!” em se pronunciando,
Treme o malvado fugindo;
E o nome da Mãe ouvindo,
Longe de nós sai voando.
Vá-nos Maria alegrando,
Afastando a errada via.
Nossa amor irá durando,
Tupansy, Santa Maria.
De nossa alma o inimigo,
Uns e outros, nos enlameia,
Porém dela nos alheia
Tupã, nosso Pai amigo.
Tupansy bate-o em castigo,
Fuga e terror lhe envia.
É o nosso amor forte abrigo,
Tupansy, Santa Maria.
Persegue-nos perseguindo
E a alma nos quer devorar.
Agitado qual jaguar,
Nosso rastro vai seguindo.
“Maria, Jesus!” ouvindo,
O demo vai sua via.
É o nosso amor infindo,
Tupansy, Santa Maria.
Ela ataca, ataca a gente,
E o pensar nos desarvora.
Maria, bela senhora,
Desmente, sim, o desmente,
O assalta, o empurra de frente
No fogo, e o mau arrepia.
É o nosso amor valente,
Tupansy, Santa Maria.
Ela arma, ele arma cilada
E quer fazer-nos entrar;
Tupansy o vem tomar,
Lhe dá pisada, pisada.
Ela zune, qual lufada,
Vindo do que é valentia.
É nosso amor de nomeada.
Tupansy, Santa Maria.